27 Abr 2016

À descoberta do potencial digital de uma geração: como a crise de empregabilidade pode ser estancada pela tecnologia

A natureza do conhecimento está a mudar, e, na era digital, a nossa definição de literacia básica precisa de se expandir com urgência.

A realidade é conhecida de todos – jovens à procura de emprego, dificuldades de acesso ao mercado de trabalho… por um lado, quem procura emprego não se consegue enquadrar nas exigências do mercado de trabalho; por outro, são muitas vezes os empregadores a apontar o dedo à formação, que não prepara convenientemente os jovens para o mundo do trabalho.

O facto existe: as competências que os jovens têm quando saem das escolas e universidades não estão a ir ao encontro das expectativas dos empregadores, que, para além de demonstrações de conhecimento, querem também profissionais com competências mais abrangentes. Os empregadores querem pessoas que sejam produtivas à partida, e acreditam que as competências digitais podem ser parte da resposta, na medida em que não só melhoram a eficiência no desempenho das funções, como também aumentam a produtividade.

A natureza do conhecimento está a mudar, e, na era digital, a nossa definição de literacia básica precisa de se expandir com urgência. A noção de literacia digital – as competências que permitem a um indivíduo viver, aprender e trabalhar numa sociedade digital – é uma das que mais precisa ser levada a sério pelas instituições educativas.

Vivemos num mundo online, onde cada vez mais somos forçados a “fazer parte” – veja-se a recente exigência do Estado Português na entrega do IRS exclusivamente na plataforma online.

As instituições educativas têm a responsabilidade de proporcionar aos estudantes a possibilidade de se tornarem sujeitos autónomos numa era de informação e comunicação digital. Não é por acaso que aqueles que dominam a linguagem digital têm mais probabilidade de se tornarem economicamente independentes, ao mesmo tempo que esse tipo de competências é particularmente valorizado no ensino superior – os empregos altamente qualificados dependem quase exclusivamente de computadores ou dispositivos portáteis.

Mas não se trata aqui apenas da questão da empregabilidade – a literacia digital é vital para a aprendizagem em si. Ferramentas de aprendizagem virtuais, como ambientes de e-learning, e-portfolios e programas de networking em redes sociais são recursos comuns dentro de dia-a-dia do ensino superior, e os estudantes que não os dominem arriscam-se a, no mínimo, ter uma experiência de estudo inferior, e, na pior das hipóteses, a ficar completamente para trás. Note-se: esta questão está para lá das competências de TIC; é necessária uma mudança de cultura para viver plenamente dentro da sociedade digital, desde compreender como comunicar as ideias eficientemente numa gama de meios, até saber gerir a reputação e histórico digital.

Mas certamente, os alunos de hoje são “nativos digitais”, que se sentem tão à vontade nos emails, Facebooks e aparelhos móveis como os seus antecessores estavam à vontade com o papel e a caneta, certo? Talvez surpreendentemente, é fácil exagerar a competência digital dos alunos de hoje, e até a dos investigadores pós-graduados.

Geralmente, o staff académico tem tendência para perceber os estudantes como sendo mais digitalmente capazes do que na realidade o são. Um estudo da JISC, levado a cabo em 3,500 alunos, descobriu que a apelidada Geração Google tem expectativas altas acerca da tecnologia digital – que será, por exemplo, flexível, robusta, adaptada às suas necessidades, e disponível em todo o lado; contudo, a maior parte dos alunos não tem uma ideia de como os cursos possam ou devam usar a tecnologia para apoiar a sua aprendizagem.

Um outro estudo, levado a cabo pela JISC e pela Biblioteca Britânica, apelidado Researchers of Tomorrow (“Pesquisadores do Amanhã”, numa tradução livre) mostrou que há pouca diferença entre estudantes mais velhos e mais novos no que toca à capacidade de pesquisar online. A maioria dos alunos apenas usa as funcionalidades básicas, e permanecem relutantes em explorar as capacidades da tecnologia, preferindo consumir conteúdos passivamente ao invés de criá-los ou melhorá-los. O mesmo estudo, aplicado a jovens investigadores em pós-doutoramento, mostra que nem se apercebem da maioria das ferramentas digitais que estão ao seu dispor.

No verso da moeda, as instituições educativas nem sempre tomam a iniciativa para ajudar os seus estudantes a adquirir essas competências – o apoio é insuficiente, e não são poucos os locais onde é inclusive proibido o uso de telemóveis e redes sociais como o Facebook. Os professores são ainda insuficientemente competentes e confiantes com as ferramentas digitais de aprendizagem; as tarefas desempenhadas não pedem realmente uma verdadeira integração da literacia digital – de tal modo que existem já estudos que indicam que os alunos sentem essas falhas da parte dos seus professores. Num desses estudos, 21% dos alunos consideram que os seus professores precisam de formação adicional no que toca as competências digitais. Do mesmo modo, expressaram desagrado com a utilização de tecnologia desatualizada, bem como com a falta de envolvimento das instituições em ambientes de aprendizagem virtuais.

Segundo a Coligação Portuguesa para a Empregabilidade Digital (CPED), Portugal está na cauda da Europa no que concerne a literacia digital. Não só em termos de mercado laboral – a maioria dos países da EU aumentou a quota de emprego especializado nesta área, e Portugal é dos países com menor proporção de trabalhadores nessas funções –, mas em termos de utilização das Tecnologias de Informação Comunicação e Eletrónica (TICE) no processo de ensino/aprendizagem, é de absoluta importância “modernizar os modelos e os instrumentos de aprendizagem, concebendo e implementando uma estratégia de recursos digitais educativos, que promova a criação, disseminação e utilização de conteúdos digitais nos processos de aprendizagem”. Ainda segundo o CPED, estima-se que em 2020 “possa haver 15.000 vagas de emprego no domínio das TIC – cerca de 5 vezes mais do que em 2012”.

É nesse sentido que está a ser desenvolvida a Estratégia e Plano de Ação para a Empregabilidade Digital. Este projeto tem como objetivo mobilizar os principais acores das TIC – seja nos processos de inovação, transferência de conhecimento, formação avançada, etc. – para que até 2020 Portugal possa ser uma referência internacional no sector das TIC.

O âmbito de intervenção desta estratégia vai desde a intervenção no 1º ciclo do ensino básico, até jovens que frequentem o ensino universitário e politécnico, quer ainda na requalificação de jovens e adultos licenciados em situação de desemprego ou empregos indiferenciados.

A EDUGEP, através da E-CODE – que celebra um ano de existência, já tendo chegado a mais de 250 pessoas –, é parceira da CPED neste empreendimento, nomeadamente na aplicação do plano ao nível do 1º ciclo.

Como membro da Coligação Portuguesa para a Empregabilidade Digital, a E-CODE enquadra-se na Estratégia e Plano de Ação para a Empregabilidade Digital, e é neste momento a entidade responsável pela dinamização do projeto piloto da DGE na Programação no 1º ciclo, desenvolvendo atividades de enriquecimento curricular em cinco entidades, no ensino de Programação e Robótica.

Tendo como áreas de ação geográfica as regiões de Setúbal e Alentejo, o protocolo que assinou em 2015 com a CPED permite à E-CODE assumir as responsabilidades que lhe pertencem no processo de combate à iliteracia digital.

 

Artigo desenvolvido a partir de um artigo de 15 de Dezembro de 2015, por Sarah Knight, disponível em http://www.theguardian.com/higher-education-network/blog/2011/dec/15/digital-literacy-employability-student-experience

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